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Revista Veja São Paulo
Para noivos de fino trato
No universo das superfestas de casamento, organizadores de cerimônias são contratados para garantir
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que todos os detalhes saiam impecáveis
Há muito que as cerimônias de casamento deixaram de ser uma celebração para a família e se transformaram em espetáculos ou eventos. Não à toa, o mercado de matrimônios está em ponto de ebulição. As festas tornaram-se cada vez mais caras e criativas. Ao redor desse mundo de sonhos, hoje orbita uma variedade de pelo menos 600 empresas. Entre doceiros, banqueteiros, cenógrafos, estilistas, maquiadores e padres da moda, destaca-se um grupo de profissionais responsável por centralizar os serviços e garantir que tudo saia impecável no grande dia. Trata-se dos organizadores de cerimônias – ou wedding planners, em inglês, como preferem os mais afetados. Eles prestam uma consultoria completa para que os noivos não fiquem perdidos em meio a tantas ofertas e detalhes. “O mercado de casamentos era doméstico e os preparativos cabiam à noiva, sua mãe e sua avó”, afirma Vera Simão, que em trinta anos de carreira cuidou dos enlaces das filhas do ex-prefeito Paulo Maluf, do megainvestidor Naji Nahas e da empresária Tânia Piva de Albuquerque. “Hoje virou um negócio superestruturado.”
De olho nesse mercado, que pelas suas estimativas movimentaria 2 bilhões de reais por ano, Vera criou em 2002 a feira Casar. O empreendimento anual caminha para mais uma edição, que começa nesta quinta-feira, em pleno mês das noivas, no Terraço Daslu. Nesses cinco anos, Vera acompanhou o crescimento e a estruturação do setor. O número de empresas catalogadas saltou de 200 para 600. Destas, noventa estarão presentes na próxima exposição, ao preço de 3.500 a 6.500 reais pelo aluguel do espaço. Deve passar por ali, em quatro dias, um público de aproximadamente 6.000 visitantes, entre noivos, curiosos e profissionais da área.
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“Não é fundamental contratar um organizador, mas quem tem um aproveita melhor a festa”, diz Rosa Maciel. Formada em relações públicas, ela atua no mercado de casamentos há oito anos, mesmo período em que publica o Guia de Noivos, dirigido a quem é corajoso a ponto de fazer tudo sozinho. “Parte da nossa tarefa é gerenciar os nervos da família.” De fato, pedir ajuda a um especialista é pagar para não ficar estressado – pelo menos não muito. Seu papel consiste em apresentar fornecedores, centralizar contratos, negociar pagamentos e buscar soluções para os pedidos mais extravagantes. Minutos antes do “sim”, ele se certifica de que todas as encomendas chegaram em ordem (das flores ao bem-casado) e cuida do cerimonial. “Se algum detalhe não sair como o esperado, a culpa acaba sobrando para nós”, conta Carla Fiani, sócia da Wedding & Co. Economista de formação, Carla associou-se na empresa à administradora Lianinha Moraes, uma das herdeiras do grupo Votorantim. Em quatro anos, elas realizaram 83 casamentos.
Contratar um desses organizadores custa no mínimo 6.000 reais. Mas o preço pode ser bem mais alto. Há quem cobre uma porcentagem sobre os gastos totais da cerimônia e da festa, o que pode elevar bastante os honorários. A noiva continua tendo de provar os docinhos, degustar o bufê, folhear álbuns para escolher o fotógrafo e tudo o mais. Cuidar do enxoval e do vestido costuma ser atribuição de sua mãe. Escolher o local da lua-de-mel em geral cabe ao futuro marido. Muitas mulheres usam os especialistas como espécies de mães de aluguel. “Não somos governantas”, avisa Rosa Maciel. Em seu escritório, ela registra o recorde de uma cliente que lhe enviou cerca de 800 e-mails durante os preparativos. “A gente convive com ansiedade, insegurança, sonhos e desafios”, afirma a relações-públicas Marina Bandeira Klink, mulher do navegador Amyr Klink. “Dá muito mais trabalho organizar um casamento do que evento corporativo.”
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Com catorze anos de altar, Marina adquiriu um olhar quase de raio X para identificar o que o cliente quer e pode pagar. Para uma noiva clássica que não se preocupa com a conta, o estilista indicado é Demi Queiroz. Se ela quer um vestido estilo camisola e tem corpo impecável, deve bater à porta de Marie Toscano. O bufê para noivos modernos pode ser o de Neka Menna Barreto, enquanto os mais tradicionais preferem o França. Ricos antenados ficam com a Casa Fasano. Outra de suas importantes funções é resolver os incontáveis pepinos de última hora: o som que apresenta problemas, o banheiro que entope, o convidado que bate o carro, outro que bebe demais… Por isso, o bom organizador é aquele que abre a igreja e fecha o salão, atento aos mínimos detalhes.
No mercado dos casamentos, costuma-se dizer que existem as “desorganizadoras”, que mais atrapalham do que ajudam. A juíza Ana Paula Gomes sabe bem o que é isso. Há dois anos, sua irmã achou melhor ela mesma preparar a festa e chamou uma pessoa para auxiliá-la somente no grande dia. Ela confundiu os padrinhos, errou o cerimonial da igreja e foi embora no meio, sem resolver o problema da falta de bebidas. Para sua boda, em abril, Ana Paula contratou a Marriages. “Cuidei de alguns itens, como o bufê, mas deixei a empresa responsável pelo resto”, diz. Como resolveu ela mesma parte das questões, a conta ficou em 3 500 reais. “Foram muito bem gastos”, acredita.
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A Marriages surgiu como tantas outras empresas do ramo. Há dois anos e meio, a advogada Marcia Coelho Possik abriu o negócio depois de promover o matrimônio de uma amiga. O trabalho aumentou e agora ela tem a ajuda da designer Ana Júlia Araujo, que virou organizadora após planejar sua própria cerimônia. Durante algumas agitadíssimas semanas, elas e suas clientes chegam a se sentir as melhores amigas. “Até seguramos o vestido da noiva para ela fazer xixi”, revela Marcia. “É preciso ter muita intimidade.” Não raro, o organizador tem de bancar a babá e tirar o copo da mão do noivo se ele estiver exagerando nos goles. Ou gerenciar tensões familiares. Disputas de poder entre a noiva e a sogra são comuns. Também são freqüentes conflitos entre os pais separados que não podem se sentar à mesma mesa. “Somos meio psicólogas”, afirma Juliana Sampaio, dona da Festività. Desde 2002, ela e sua sócia, Gabriela Camargo, realizaram cerca de 100 casamentos. Só no último fim de semana, foram três: um para 700 pessoas no Jockey Club, outro para 400 no Leopolldo e um terceiro para 900 no Terraço Daslu.
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Quem contrata um desses serviços normalmente quer uma festa única. Dona da Party Design, a cenógrafa Chris Ayrosa é requisitada para montar estruturas cinematográficas. No enlace do jogador Kaká com Caroline Celico, em dezembro, ela mandou revestir o teto do salão do hotel Grand Hyatt com 14.000 metros quadrados de tule branco, comprados na Rua 25 de Março (ou na “Twenty-five”, como ela gosta de dizer). O objetivo era mudar o aspecto de centro de convenções do ambiente. Foi sua empresa que coordenou a celebração da bilionária Athina Onassis com o cavaleiro Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda. Sua próxima missão é fazer com que a troca de alianças entre o publicitário Roberto Justus e a atriz Ticiane Pinheiro, neste sábado, saia perfeita – da cor da forminha dos doces (rosa antigo e marrom-café) aos sessenta buquês de rosas suspensos que vão ornamentar o salão principal da Casa Fasano. E dá-lhe Marcha Nupcial.